E os dias são de medo, dias de estômago entrelaçado, dias de falta de ar, e o medo constante de acordar, medo de acordar. Medo de acordar friamente, acordar cruelmente, o medo de acordar. Vou sentar, e somente esperar, esperar um seu falar, tenho tanto medo de escutar, medo de escutar que em seu coração nada mais há, que em seu coração não há mais um lugar. E quando você falar, talvez seja bem direto, talvez seja bem cruel, talvez seja um iceberg, uma espada, uma cartada, talvez me faça sangrar. Talvez quando você falar, seja uma nuvem doce, seja um cantar, talvez seja quente, um vulcão, uma droga que veio para me me curar, me aliviar desse pesar. Mas por enquanto a única coisa que me resta é esperar, nesses dias tão tristes, dias tão felizes, dias de medo, dias de festa, nesses dias de medo de acordar. E se com tristeza eu precisar acordar, que eu me levante lentamente, calmamente, e então calce os meus pés que sangram num salto alto e fino, que eu tente superar essa dor. Que eu use um batom cor de rosa que marque a sua pele num beijo de mágoa. Que eu use um perfume doce, forte e marcante, para permanecer viva nas suas lembranças mais sofridas. E então que eu vá embora, calada e sutil, com os cabelos soltos ao vento e com um sorriso triste e febril. Que na beleza do meu rosto ofuscado pelo pavor, eu consiga fingir te desprezar, que eu consiga fingir que no meu coração nada sobrou. Que eu consiga fingir que nem lhe conheci, que nada eu senti, que eu consiga fingir que não vou sentir tua falta, que como uma boa atriz eu consiga fingir. Que eu tenha um andar suave ainda que meus pés doam e sangrem durante o meu caminhar, ainda que eles estejam me implorando para parar, ainda que a dor seja insuportável eu preciso suportar. E que eu não chore, que eu não sorria, que a minha ida seja apenas uma sóbria melodia, que eu não expresse nada, que eu não fale quase nada, nada mais do que o vazio do meu olhar.
Daniele Nascimento
Daniele Nascimento
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