Se eu pudesse escolher escolheria ser vazia, mas sou a dona da palavra calada...
Se eu pudesse escolher, escolheria ser vazia, escolheria ser comum, perdida nas noites, nos braços, nos beijos, nos abraços, nos brilhos, nas camas, nos decotes, nas exibições baratas. Eu escolheria estar afogada nos copos, nas fantasias que a grande maioria usa. Mas não se escolhe ser, simplismente se é. Infeliz de mim que sente profundamente, que acredita em palavras, que desacretida em gestos, que cala. Infeliz de mim que não veste a fantasia das noites em claro, que se reserva, que prefere o preto, que fica quieta. Infeliz de mim, infeliz de mim por ser assim. Eu nunca digo aquilo que de verdade quero dizer, eu me calo. Eu nunca transpareço a mágoa que fica, eu disfarço. Eu nunca expresso o que realmente penso, eu minto. Eu nunca deixo cair a lágrima presa, eu engulo. Eu nunca demonstro a dor que me aflige, eu finjo. Eu nunca peço o que mais desejo, eu escondo. Eu nunca deixo que vejam meu sangue escorrendo do peito, eu lavo. Eu nunca deixo que vejam meu coração quebrado, eu colo. Eu nunca falo sobre o que vi e não gostei, eu uso óculos escuros. Eu nunca falo sobre os meus sonhos, eu acordo. E se conseguem me fazer chorar, eu disfarçadamente sorrio. E se cortam meu coração em pedaços, com uma falsa alegria eu canto. E se vejo o que não quero, uso um anestésico. E se me fazem sentir a dor mais profunda eu escrevo. E se a dor ainda assim for insuportável eu pinto. Pinto telas com meu próprio sangue. Eu sempre uso a palavra calada.
Se eu pudesse escolher, escolheria ser vazia, escolheria ser comum, perdida nas noites, nos braços, nos beijos, nos abraços, nos brilhos, nas camas, nos decotes, nas exibições baratas. Eu escolheria estar afogada nos copos, nas fantasias que a grande maioria usa. Mas não se escolhe ser, simplismente se é. Infeliz de mim que sente profundamente, que acredita em palavras, que desacretida em gestos, que cala. Infeliz de mim que não veste a fantasia das noites em claro, que se reserva, que prefere o preto, que fica quieta. Infeliz de mim, infeliz de mim por ser assim. Eu nunca digo aquilo que de verdade quero dizer, eu me calo. Eu nunca transpareço a mágoa que fica, eu disfarço. Eu nunca expresso o que realmente penso, eu minto. Eu nunca deixo cair a lágrima presa, eu engulo. Eu nunca demonstro a dor que me aflige, eu finjo. Eu nunca peço o que mais desejo, eu escondo. Eu nunca deixo que vejam meu sangue escorrendo do peito, eu lavo. Eu nunca deixo que vejam meu coração quebrado, eu colo. Eu nunca falo sobre o que vi e não gostei, eu uso óculos escuros. Eu nunca falo sobre os meus sonhos, eu acordo. E se conseguem me fazer chorar, eu disfarçadamente sorrio. E se cortam meu coração em pedaços, com uma falsa alegria eu canto. E se vejo o que não quero, uso um anestésico. E se me fazem sentir a dor mais profunda eu escrevo. E se a dor ainda assim for insuportável eu pinto. Pinto telas com meu próprio sangue. Eu sempre uso a palavra calada.
Daniele Nascimento